sábado, 9 de janeiro de 2010

Aula Incompleta.

Era a filha mais nova, nascida oito anos depois da terceira e pegou a todos de surpresa; a mais velha tinha quinze anos e festejou a notícia; abaixo dela, a de onze anos achou a novidade interessante e a terceira, com sete anos só ficou sabendo quando a mãe chegou em casa com o bebê. Não gostou da novidade e nunca escondeu isso.
No ano de 1.965, a garota tinha sete anos e estudava em colégio de freiras, como suas três irmãs. Não gostava do colégio. Achava sombrio, sério e em todos os lugares tinha um crucifixo. Ela não gostava de olhar para eles; tinha pavor dos pregos, da coroa de espinhos e acha muito triste a história “Dele.”
Logo aprendera que, sempre que se referisse a “Ele”, tinha que ser com letra maiúscula, afinal, tratando-se “Dele”, o pronome virava um substantivo próprio.
Até pensar “Nele” era com maiúsculas, concluiu a garota.
Para seu terror, a freira ensinou também que “Ele” era onipresente e onisciente o que, soube depois, significava que Ele estava em todos os lugares, de tudo sabia e via!
Isso não é justo, pensava a menina sem coragem de falar alto. Afinal, “Ele” a veria cutucar o nariz, tomar banho, fazer xixi, fazer...bom, todas aquelas coisas que ninguém faz na frente dos outros.
Quando tentava falar disso com a mãe ou irmãs, não entendia porque elas apenas riam e passavam a mão na sua cabeça. Resolveu então recorrer ao pai, que era quem mais a compreendia, e, assim que ele chegou de viagem ela correu encontrá-lo como sempre fazia e, na primeira oportunidade expôs o seu dilema.
O pai, tranqüilizando-a ensinou: sempre que fosse fazer “aquelas coisas” era só pedir a “Ele” que fechasse os olhos um pouquinho, só até ela acabar.
Aliviada a menina pensou que bem que as freiras podiam ter ensinado isso também. Afinal, se não admitiam tarefa incompleta não deveriam dar a “aula incompleta” também!
Bom, elas haviam ensinado também que “Ele” conhecia os pecados melhor que o seu autor, mas sempre perdoava desde que houvesse arrependimento sincero e o pecador, de joelhos, pedisse perdão.
Assim, passou a ser comum verem a garota de joelhos dizendo: “Perdão Jesus.”
- Já escovou os dentes?
- Já – ajoelhando-se em seguida.
- Arrumou seu material?
- Sim – joelhos no chão.
- Sabe toda a matéria da prova?
- Sei – ai meu joelho.

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