sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Ela é espectadora de um mundo, uma vida que, intuitivamente reconhece e sabe que já foi parte atuante. Hoje sequer conhece seu lugar, suas coisas, seus apreços, sua referência.
Não tem, não sabe por onde recomeçar; é como pagar uma pena imposta de luto eterno. E, suprema ironia, nesse estado, paga pelo que lhe foi tirado.
Não confia mais nas lembranças, mesmo nunca tendo sido por elas traída; mas conclui que não lhes cabe culpa pela dor que causam.
Na névoa do sono já não tem certeza se são lembranças ou sonhos que, tantas vezes sonhados calcificaram-se como memória.
Desperta para a luz do dia inclemente e constata: o sono não é mais refúgio.
Pergunta então à vida, qual o sentido afinal; a Vida, olhando-a furtiva e desafiadora responde:
- Se quer mesmo saber, viva!
- Mas viver o que, com quem, para quem?
- Olhe-se no espelho e descubra – responde a Vida já quase a escapar.
- Quando olho no espelho vejo outra a me fitar. Uma desconhecida que me parece, morreu em vida.
- A morte em vida não é morte, mas fuga – responde a Vida.
- Não posso continuar e não sei como recomeçar – responde ela prosseguindo o diálogo insano.
- Ora, ora – responde a Vida entre irritada e divertida – se não pode continuar, volte ao princípio e renasça!

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